Sábado à noite. Minha flatmate, Lívia, tinha saído pra assistir um jogo com alguns amigos. Eu e outros amigos ficamos em casa pra preparar uma comida, assistir o jogo e conversar.
Lá pra 3 horas da manhã, eu estava dormindo leve. Escutei a Lívia chegando, subindo as escadas e indo se deitar.
Dormi de novo.
Me virei na cama, bati sem querer a mão na parede (que é dry-wall, então faz muito barulho) e fiquei pensando que tinha acordado a Juliana no quarto ao lado. Escutei alguém lá fora batendo em alguma porta, no beco atrás da nossa casa, e imaginei que algum vizinho tivesse esquecido a chave e estivesse voltando altas horas da madrugada, tentando acordar os flatmates pra entrar.
A pessoa começou a bater mais e mais forte. Eu fui me incomodando com aquilo, me perguntando por que ninguém abria a porta pra esse coitado. Até que ouvi uma mulher falando com o "batedor" algo em inglês que eu não entendi. Eu pensei: "Calem a boca e vão dormir!"
Mas o batedor esperou uns minutos e recomeçou a bater. Marina, minha colega que dorme no quarto cuja porta é virada para o beco, subiu as escadas desesperadamente, falando num inglês com sotaque carregado e os olhos arregalados:
"Vocês estão esperando por alguma visita? Por que tem um homem batendo na porta de trás da casa perguntando se mora alguma garota brasileira aqui! Eu disse que não mora nenhum brasileiro aqui, mas ele não desistiu!"
Todo mundo apavorado, porque o cara tinha voltado a esmurrar a porta. Eu coloquei a cabeça pro lado de fora e perguntei pra ele se podia ajudar.
Eis que o rapaz me explica o seguinte, em um inglês irlandês bem bêbado:
"Eu estava vindo acompanhar a Lívia até em casa, nos separamos por alguns minutos, e quando eu olhei, ela não estava mais lá! Ela me deu esse endereço, ela me disse que morava aí! Ela está em casa?"
Eu, com medo do que poderia acontecer a seguir, não disse nem que ela estava, nem que não estava. Vai que ele está com raiva da Lívia e arrebenta a porta pra vir acabar com a raça dela aqui dentro? Eu disse ;"Só um minuto, eu não sei se ela está aqui. Vou tentar ligar para ela e saber se ela está bem, e te digo. Espere só um minuto!"
Fui ao quarto onde a Lívia ainda dormia um sono pesado de quem tomou todas. Perguntei se ela conhecia o tal Ryan, se ele era gente boa (se não iria matar a gente, e essas coisas), e ela sonolenta disse: "É, eu conheço, ele é legal! Manda ele embora!" E capotou novamente.
Fui à janela e o avisei que tinha conseguido falar com ela, e que ela estava bem. Ele, muito agradecido, gritou: "Graças a Deus, era só isso que eu queria saber! Muito obrigado, boa noite!" E foi embora.
No outro dia, todos muito assustados, conversamos com todos da casa sobre o que tinha acontecido. Chegamos à conclusão que:
1- Se, ao te acompanhar até sua casa, seu amigo der uma paradinha para fazer xixi, não siga andando e entre no beco onde você mora. Caso você resolva fazer isso, avise ao seu amigo para que ele não fique pensando que você foi sequestrada ou algo assim.
2- Quando estiver bêbado e achar que sua amiga foi sequestrada, não esmurre a porta da casa dela em plena madrugada, como se quisesse invadi-la. Isso pode acabar assustando os flatmates dela, bem como todos os vizinhos.
domingo, 14 de junho de 2015
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Brasileiros em Dublin
Ao iniciar os preparos para um intercâmbio em Dublin, a primeira coisa que nos alertam é sobre a quantidade de Brasileiros que vivem nesta capital. Resolvi fazer esse texto sobre as frases que mais ouvimos sobre isso, para ajudar as pessoas que pretendem fazer o próprio intercâmbio aqui em Dublin a formar sua própria opinião.
1) "A escolas de Dublin estão cheias de Brasileiros! Como vou aprender?"
A Realidade: Há muitos brasileiros em Dublin, realmente. A cidade se tornou um destino muito popular entre os intercambistas. pelos motivos já conhecidos: facilidade de obtenção de visto, melhores preços de cursos, proximidade com diversas outras cidades turísticas européias, etc. Sendo assim, as escolas de Inglês para intercambistas estão abarrotadas de Brasileiros.
Uma coisa que pouca gente lembra na hora de reclamar é que a cidade não está cheia de Brasileiros, exclusivamente, e sim, há pessoas de muitas outras nacionalidades. Nosso cérebro é condicionado a buscar o que já conhecemos, então o Português se destaca aos nossos ouvidos a todo momento, e o escutamos - realmente - em muitos ambientes dentro da escola.
Como contornar: Comprometa-se com seu aprendizado. Faça seus deveres de casa, envolva-se nas aulas e nas atividades extra-classe, conheça gente nova. Durante as aulas, mantenha o foco, e fale apenas em inglês ou por meio de mímicas. Evite ceder a tentação de traduzir tudo para seu amigo brasileiro, pois isso fará vocês continuarem raciocinando em Português e a ideia de aprender um novo idioma é exatamente contrária a essa: você deve tentar pensar no novo idioma.
2) "Tem Brasileiro pra todo lado, não tem como praticar inglês!"
A Realidade: A quantidade de brasileiros também gerou uma grande quantidade de comércios específicos para essa população. Isso mesmo, se você achar que vai sentir saudade de alguma comida brasileira, pode ficar tranquilo pois aqui há restaurantes e mercadinhos com coisas brasileiras, bem no centro da cidade. Além disso, os brasileiros também trabalham em outros comércios e, vez ou outra, você pode entrar em uma loja e descobrir que a pessoa que atende é do Brasil.
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| Bar D-ONE, serve almoço brasileiro diariamente. |
Como contornar: Saia da sua zona de conforto. Não vá sempre aos mercados, restaurantes e baladas brasileiras. Vá a lugares novos, compre alimentos em mercados irlandeses, poloneses, indianos, japoneses! Eles estão por todo lado, e nesses você só vai ter um jeito de se comunicar: em inglês. Não se esqueça que você atravessou o oceano com um propósito, e será triste voltar pra casa sem ter conhecido culturas novas.
3) "Brasileiro é um povo muito ruim! Brasileiro só sacaneia Brasileiro!"
A Realidade: Como dito anteriormente, a cidade está cheia de estrangeiros. Quanto maior a quantidade de pessoas num lugar, maior a quantidade de índoles você encontra. Em lugares com muita gente, a chance de encontrar alguém querendo dar uma de espertinho é sempre maior que em um lugar com poucas pessoas. Sendo assim, no meio dos estrangeiros que vieram pra Dublin, obviamente vieram pessoas que não são tão legais quanto se espera que elas sejam. Realmente tem gente tentando passar a perna em pessoas quando o assunto é aluguel, escola, comércio, carro, passeios turísticos, emprego, tudo! Agora, isso é apenas entre os Brasileiros? Obviamente não. E isso acontece só aqui em Dublin? Obviamente não. Certamente você sabe de alguma história de pessoas tentando passar a perna em outras até aí na sua cidade. Por que em Dublin seria diferente?
Como contornar: Fica ligado. Não se envolva com as pessoas erradas. Não confie demais nas pessoas. Conheça seus deveres, seus direitos e seus limites. Comunique-se adequadamente, para que não aconteçam "mal-entendidos". Os mesmos conselhos que sua família sempre te deu, mas agora com um agravante: você não mora mais com eles, você não vai ser protegido por eles caso descumpra alguma regra, e as pessoas em volta não te amam tanto quanto sua família ama.

Eu entrei no meu planejamento de intercâmbio de cabeça, e estava preparada quando chegou minha hora de embarcar nessa viagem. Minha vida tem sido boa aqui, tenho melhorado meu inglês, conhecido novas culturas, e - sobretudo - tenho feito amigos. Os melhores amigos que fiz aqui são brasileiros e têm orgulho do nosso País. Todas as vezes que precisei, foi um brasileiro que me estendeu a mão, ou me deu um ombro amigo. No mais, creio que os comentários negativos sobre Braseileiros em Dublin não passam de um mau-hábito. Há pessoas no mundo que são habituadas a reclamar, e nunca a ver a solução ou o lado bom para as coisas da vida.
Se você não é uma dessas pessoas reclamonas, mete o pé e vem. Dublin te espera de braços abertos, com sorrisos de todas as nacionalidades.
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